Entrevista com Enrico Casarosa, diretor do curta “La Luna”

Recentemente, o site Animation World Network entrevistou Enrico Casarosa (@sketchcrawl), o diretor do mais novo curta da Pixar Animation Studios, “La Luna“. O nosso amigo e parceiro Pedro Costa De Biasi traduziu a entrevista que você confere abaixo:

Apresente La Luna para seus espectadores.
É na verdade a história de um garotinho que sobe no barco com seu pai e seu avô pela primeira vez para conhecer o trabalho deles. Eles estão levando-o para ver o trabalho da família. Eles estão no mar e o menino terá muitas surpresas.

O trabalho da família é fantástico. Eu evito revelar muito da trama porque sinto que a sensação de fascínio e de descoberta é muito importante. Eu eu normalmente paro por aqui.

Mas o principal no filme é o garoto encontrando o próprio caminho entre essas duas personalidades fortes e eu me relaciono com isso: crescer com meu pai e meu avô, que não se dão muito bem, e ser a criança no meio dessas duas pessoas tão fortes e tão diferentes.

O garoto parece preocupado em meio a tudo isso.
Sim, é bem verdade. Eu queria que ele fosse um pouco tímido, sabe, introvertido. Talvez ele tenha sido colocado naquele lugar… mas, com isso, eu queria que ele fosse curioso. E até no desenho do personagem, ele é todo olhos. Ele está olhando para o mundo. Ele tem uma alegria e uma curiosidade que seu pai e seu avô perderam.

Então eu queria colocar os espectadores no lugar do garotinho, com todo esse fascínio que nós temos durante a infância, coisas que nós deveríamos manter na idade adulta mas normalmente perdemos.

Eu ouvi falar que La Luna tem sido preparado pela Pixar há algum tempo. Quando o estúdio aprovou o projeto? Quanto tempo demorou a produção?
Hm, vejamos. Nós concluímos basicamente no fim do ano passado. Com esse curta, o que ocorreu foi que eu já estava no meu novo trabalho em novembro do ano passado. Mas nós não tínhamos concluído La Luna de fato. Ainda faltavam algumas coisas a fazer. Então o trabalho se acumulou. E foi parecido no início: quando eu me estabeleci no projeto, eu ainda estava trabalhando em outros filmes.

Então, falando de produção, foram provavelmente nove meses, a maior parte deles em 2010. Nós começamos no fim de 2009 e terminamos no outono de 2010 [primavera, no Brasil]. E eu provavelmente comecei a desenvolver a primeira ideia no fim de 2008. Eu propus o projeto no começo de 2009, então levou algum tempo para ter os recursos prontos.

Para os curtas funcionarem na Pixar, temos daqueles momentos nos quais há um número suficiente de pessoas disponíveis, então você tem que escolher o exato momento em que não há muitos filmes em estágio crucial de produção. E isso me deu a oportunidade de criar os storyboards e começar a desenvolver o projeto antes do começo da produção.

Por que a decisão foi de passar por festivais antes de exibir o curta nas sessões de “Valente” no ano que vem?
É, não foi a primeira vez que nós fizemos isso. Eu acho que foi assim com O Jogo de Geri, acho que foi assim com Quase Abduzido. O que acontece é que se—estava pronto. E já estava pronto desde cedo. Nós concluímos o curta cedo. Então a ideia era mantê-lo na estante por um tempo e não exibi-lo até Valente.

Então foi Pete Docter quem disse, ‘Sabe, nós podíamos exibi-lo nos cinemas’— não nos cinemas—em festivais no ano que vem e, com sorte, prepará-lo para ser indicado ao Oscar neste ano em vez de esperar até o ano que vem.

E foi assim—eu fiquei muito feliz com isso porque significava que o curta teria um pouco mais de vida própria, sabe, teria os holofotes voltados para si por algum tempo, o que é uma grande sorte. E eu estou grato por isso.

Uma coisa que eu adorei foi o design de som. O que você pretendia, e quem estava no time do som?
Foi um processo maravilhoso. Nós tivemos—Justin Pearson é o cara por trás de tudo. Ele é um designer de som maravilhoso, ainda novo na Pixar. E provavelmente foi por isso que eu tive a sorte de tê-lo no curta. Ele anda ocupado com muitos filmes atualmente. Super talentoso. E minhas instruções eram muito simples. Eu queria— especialmente as estrelas, acho que é nisso que você pensa quando fala de design de som…

Sim.
… porque é uma das coisas que realmente se destaca. Eu quero que elas sejam bem mundanas. Eu queria que elas parecessem títulos, nada muito mágico, ou talvez só no final, quando elas poderiam ser um pouco mágicas. Então ele seguiu essa ideia fielmente, e todas as gravações que ele fez são maravilhosas. Nós encontramos esse tipo de som anti-romântico, mas é muito representativo—quase o modo como o Pai e o Avô veem essas estrelas. Elas são coisinhas maravilhosas, mas só o garoto parece entender isso, e eu queria que o som sustentasse essa ideia.

E aí, conseguimos excelentes gravações. Pearson se desdobrou para conseguir ótimos barcos, ele foi para lagos procurando barcos de madeira, e existe uma arte verdadeira no design de som que, agora, eu conheço e respeito muito mais. Os toques finais foram feitos na Skywalker [Sound].

E além disso tudo, nós tivemos um anjinho da guarda no campo do som, Harry Rydstrom, que, como você sabe, está na Pixar há muitos anos… Ele nos dava notas, checava o nosso trabalho aqui e ali. E ele gostava muito da história, então ele falava suas opiniões sobre ela com muito prazer. E, sabe, ter um cara com sete Oscars no auxílio sonoro foi extraordinário, e tivemos muita sorte por isso.

Como foi trabalhar com Michael Giacchino?
Ah! Foi maravilhoso. Ele é um grande colaborador. Super, super suave. Ele é um contador de histórias. Ele pensa como um contador de histórias, então nós falávamos a mesma língua. Eu falava muito sobre emoção, eu já tinha uma linha emocional para todo o curta construída na minha cabeça. Eu podia facilmente dizer para ele quais emoções eu estava buscando em momentos diferentes.

E eu ainda o bombardeei com toneladas de referências a Nino Rota, muitas trilhas sonoras de filmes do Fellini, e algumas antigas músicas napolitanas. Há muitas músicas que me inspiraram, então Michael queria buscar em suas raízes e tirar inspiração delas. Ele fez um ótimo trabalho. Existe um pouco de Fellini na trilha, o que é incrível.

Então você estava buscando um clima italiano/europeu bem específico?
Sim, com certeza. Como eu cresci lá, eu senti que era um gostinho que eu podia passar. E com cuidado: prestei muita atenção para que não virasse clichê. Mas era algo que queríamos no curta desde o começo.

Você não pode contar em quê está trabalhando agora, pode?
Na verdade, eu posso. Posso. Eu estou há alguns meses trabalhando como “head of story” [chefe do departamento da história em um filme] do Filme Sem Título de Dinossauros da Pixar, com direção de Bob Peterson e co-dirigido por Pete Sohn. Eu tenho trabalhado nesse filme há alguns meses e tem sido muito divertido. Eles são uma piada. Então estamos passando bons momentos. Ser o “head of story” é uma experiência nova para mim, então tem sido divertido. E eles têm uma premissa maravilhosa para o filme. Tem sido muito divertido.

Créditos: Planeta disney

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